terça-feira, 10 de junho de 2025

De volta pra Yalda do futuro


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Mais uma entrevista do programa diário The World with Yalda Hakim na Sky News (9 de junho de 2025) que degenerou em bate-boca – embora desta vez mais “amigável” –, portanto, em meme. Se bem que nesse caso ele se deve muito mais à semelhança entre as duas envolvidas do que à aparência da treta em si... Sherry Rehman é senadora do Paquistão e vice-presidente do Partido Popular do Paquistão, pertencente (não é uma metáfora!) à dinastia familiar dos Bhutto, que sempre fez oposição ao outro grande partido, a Liga Muçulmana do Paquistão. Este mesmo possui diversas facções, e uma de suas cisões pertence (também sem metáfora!) ao atual primeiro-ministro, Nawaz Sharif, membro da outra grande dinastia política.

A única tentativa de quebrar esse bipartidarismo de fato foi o governo do ex-astro do críquete Imran Khan, que foi premiê por um tempo, mas depois foi deposto e preso sob a acusação de (que novidade!) corrupção. Hakim tentou ao máximo apresentar a Rehman fatos sobre o apoio paquistanês a grupos terroristas muçulmanos, muitos dos quais cometeram atrozes atentados na Índia, mas a senadora sempre negava e se esquivava. Nesse aspecto, todas as dinastias políticas de Islamabad se assemelham... Mas além da “sabonetada”, ficou engraçado como Rehman se parece um pouco com Hakim, só que com mais “botoque” e muito mais batom e pó-de-arroz.

Óbvio que a conversa foi em inglês, mas Yalda Hakim nasceu em 1983 em Cabul, capital do Afeganistão, e com poucos meses de vida sua família fugiu pra Austrália. E ela também é fluente em hindi, urdu (na verdade, duas variantes literárias do “hindustâni”), persa, dari (também duas codificações do mesmo idioma) e pastó (ou pashto). Acho que por eu ter visto uma vez uma entrevista dela em urdu, devo ter pensado que ela fosse paquistanesa, mas em todo caso, os dois países são muito próximos: os mujahedin resistiram à injustificável agressão soviética, mas os Talibã como ideologia nasceram exilados no Paquistão. É uma grande jornalista cujo trabalho todos os brasileiros deviam conhecer!



sexta-feira, 6 de junho de 2025

“Mitologia soviética” (resenha)


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Prometi a amigos que ia “resenhar implacavelmente” este livro escrito (cometido, seria a palavra mais exata) por Thiago Braga, mas não tinha pensado onde ia fazer isso; mesmo aqui eu não tava pensando em publicar nada. Inclusive, você viu que tô dando uma “moratória” nas publicações, mas é pra preparar outros projetos pessoais. Na medida do possível, vou programar coisas mais robustas que vão voltar a sair diariamente a partir de 1.º de julho. Vez ou outra posso aparecer “de urgência” aqui, como é o caso de hoje, embora minha intenção inicial fosse publicar este texto nas avaliações da Amazon.

Parece que tá tendo problemas pra aparecer por lá, e dada essa finalidade original, não posso dizer que seja uma “resenha” no sentido acadêmico, mas várias opiniões e até desabafos, muitos deles acérrimos, contra o anticomunismo mal informado, bem como contra os defensores de Lenin e, sobretudo, Stalin. Não exauri todos os pontos possíveis, até porque seria humanamente impossível e os já dados aqui bastam pra convencer a não gastar seu salário em vão. Mesmo que fosse publicado no portal, não tinha por que não trazer aqui também, e segue o “descarrego”, com leves adaptações, a ser interpretado como você quiser.


Nunca avaliei um livro, e não achei que isso poderia virar uma “guerra de dislikes”. Mas vamos lá, tratando objetivamente da obra, e não da pessoa do autor. Conheci Thiago pelo canal “Brasão de Armas”, do qual vi alguns vídeos sobre o comunismo soviético, em minha opinião, bem mal estruturados. Também soube da tentativa do acadêmico Jones Manoel de chamá-lo para um debate ao vivo, até agora sem sucesso. Por um ou outro meio, soube da publicação deste livro, e sendo o primeiro lançamento do youtuber, decidi comprar logo para cravar minha avaliação.

Thiago é professor, e por isso merece minha deferência, pois a profissão deveria integrar uma espécie de elite que existe em outros países, mas infelizmente é maltratada neste restolho colonial. Thiago também merece minha deferência porque decidiu adotar uma posição de crítica e ataque à ideologia bolchevique, um dos maiores terraplanismos conceituais, políticos e administrativos já surgidos na face da Terra, um plano de engenharia social tosco e aberrante. Você não precisa defender acriticamente esse projeto fracassado (mais por culpa própria do que por ação do “imperialismo ocidental malvadão”) para se preocupar com as mazelas sociais causadas tanto pelo próprio capitalismo quanto por constantes violações de leis adotadas democraticamente.

Por “bolchevismo” entendo o marxismo tal como interpretado por Lenin e Stalin, bem como a prática do PC soviético na finada URSS; portanto, nesse rótulo incluo o que poderíamos de chamar de “leninismo”, “stalinismo” (concernente às práticas específicas de Stalin no que teve de inovador em relação a Lenin) e todos os derivados com maior ou menor reivindicação (“trotskismo”, “maoísmo”, “hoxhismo”, “castrismo”, Juche etc.). Evito “comunismo” (assim como “socialismo”), porque essa palavra é anterior ao próprio Karl Marx e foi “surrupiada” por Lenin, portanto, ela não diz nada.

Também evito “marxismo-leninismo” por duas razões: 1) é redundante, já que o “leninismo” é uma interpretação do “marxismo” (mesma coisa que dizer “cristianismo-luteranismo”, por exemplo); 2) é desobedecer ao próprio Marx e aceitar a descrição que os próprios atores históricos fazem de si mesmos, o que nos obrigaria a incluir um certo “nacional-socialismo” na família das esquerdas; 3) é uma máscara ruim para o próprio “stalinismo”, no que teve, repito, de particular tanto na teoria quanto na prática, sem juízo de valor, ao contrário do que pensam os próprios “stalinistas”, ops, “marxistas-leninistas”.

Contudo, mesmo sendo bastante crítico ante certas coisas que Thiago defendeu e várias de suas argumentações históricas, não achei que ia me impressionar tão negativamente com sua estreia editorial. Embora várias avaliações aqui feitas só tivessem o objetivo de lacrar pro lado dos webcomunistas e fossem tão “incels” quanto supostamente seriam os inscritos de Thiago, elas apontaram algumas falhas crassas: péssima redação, ortografia de ensino médio, frases truncadas, uso aleatório das aspas, traduções mal feitas (às vezes parece que ele simplesmente copiou-e-colou os autores e traduziu, porque saiu até inglês no meio!), falta de padronização na redação das citações, total negligência na transliteração de nomes próprios, palavras repetidas e aquele famoso programa de mistério: Onde está a crase? Esses pontos são de chorar e dão o maior flanco para o ataque das viúvas do KGB, embora esses “sujos falando do mal lavado” não escrevam textos melhores. Se aqui a nota mínima só pode ser “um”, infelizmente a “editora” que deve economizar com revisores e deixou essa publicação ocorrer, parecendo querer mesmo sabotar Thiago, não merece mais do que zero.

Do ponto de vista lógico (mas não que as conclusões estejam necessariamente erradas), há vários tropeços, mas vou tentar me ater aos mais importantes. O primeiro e mais evidente é o embasamento quase exclusivo em historiografia, ou seja, pesquisas já prontas, que às vezes chamamos de “fontes secundárias” porque não devem servir de material, e sim como uma introdução ao tema. Há poucas exceções, como o recurso às Obras completas de Lenin em inglês, as quais, se desconhece o russo, podia pelo menos cotejar com outras traduções. Porém, se há fontes primárias, elas são citadas pelos próprios historiadores, atrás dos quais Thiago se esconde apenas para trazê-las indiretamente (e sem jamais usar o famoso “Apud”, que indica citação indireta!), como que usando o argumento de autoridade: “Olha, se ele está citando, é porque a fonte existe, ela está aí e não preciso ir atrás!”

Sobre os autores, o defeito mais evidente de Thiago, já revelado em seus vídeos, deve advir de sua provável não especialização no tema, o que o leva a escolher autores, obras e correntes de modo acrítico e sem localizá-los em debates mais amplos, sequer entre eles mesmos. (É um defeito geral achar que só por ser “historiador”, alguém pode discorrer confortavelmente sobre todo e qualquer tópico histórico, ou que um não historiador, só por selecionar as melhores obras sobre um tema, pode fazer um “trabalho histórico”.) Além disso, parece que ele “pinça” trechos e citações das origens mais díspares, quando não resume obras ou artigos inteiros, e faz um mosaico apenas para embasar as próprias concepções prévias. Já foi apontado que Thiago faz autores dizerem o que não dizem e autores de orientações opostas dizerem as mesmas coisas. Não estou em condições de julgar, mas por curiosidade acessei a Wikipédia em russo sobre Dmitri Volkogonov e descobri que exatamente outro autor onipresente, Oleg Khlevniuk, sequer o considera um “historiador”, mas um “político”!

Um cacoete particularmente irritante e resquício de nosso bacharelismo latifundista é quando Thiago adiciona o título “professor” a praticamente todo historiador citado, como se isso fosse reforçar o argumento. Não que não sejam professores, mas para que isso? Pior, faz uma coisa que já devia ser sanada em um primeiro ano de graduação, que é a oscilação no uso dos nomes: ora vemos “o professor Dmitri”, ora “o professor Volkogonov” para designar a mesmíssima pessoa, assim como “a professora Sheila” e “a professora Fitzpatrick” parecem a mesma historiadora desmembrada em duas.

Aliás, sua limitação linguística, suponho, apenas ao inglês impediu-o de conhecer no original vários outros sovietólogos da Europa (pré e pós-abertura dos arquivos): Pierre Broué, Fernando Claudín, Arch Getty, Moshe Lewin (os quatro com várias traduções em português), Marc Ferro, Hélène Carrère-D’Encausse, Brigitte Studer (já traduzida ao inglês), Aldo Agosti, Serge Wolikow, Nicolas Werth e até Silvio Pons, já traduzido para o português. Inclusive, por sua abordagem científica, e não meramente ideológica (como um Ludo Martens, um Grover Furr ou um Domenico Losurdo da vida), vários deles já entraram para o Index do Comunistão tropical. E em várias redes sociais já cansei de indicar esses autores para direitistas e esquerdistas, mas parece que falo aos quatro ventos... Inclusive, criticados que são, os franceses Stéphane Courtois (o mesmo do “livro de cor escura”) e Annie Kriegel fazem com muito mais categoria o mesmo trabalho que Thiago faz.

Sinceramente, enquanto popularizador de conhecimento (não vou entrar no mérito de adesões partidárias), é difícil julgar Thiago por querer abordar todo e qualquer tema, mesmo sem ter com ele uma familiaridade de uns bons anos. Porém, a falta de profissionalismo se revela na referida “pinçagem” de autores que parecem sair do nada, não pertencem a uma escola, não têm suas próprias convicções que afetam direta ou indiretamente sua produção. Essa classificação dos “revisionistas”, por exemplo, é de matar, até porque os arquivos não trouxeram nada radicalmente novo, mas apenas ampliaram e refinaram o que, mais ou menos indiretamente, já se sabia sobre a natureza do inferno soviético, com a vantagem de que as moscouzetes não podiam mais alegar “falsificação estadunidense”... Seria muito melhor se Thiago se limitasse apenas aos vídeos e indicasse os autores para que seus inscritos pudessem ler e pesquisar por conta própria, e não fazer essa bricolagem porca que serviu de presente aos webcomunistas.

Webcomunistas que, aliás, parecem ter sido a única obsessão de Thiago. Ele não quer fazer o conhecimento avançar, ele não quer popularizar no Brasil a historiografia sobre a URSS, ele sequer, presumo, se preocupa sinceramente com os milhões de vítimas das várias catástrofes no antigo império. Ele se preocupa porque foram Lenin e Stalin os principais responsáveis pela matança; e se tivessem sido Denikin, Kerenski, Kornilov ou mesmo Nicolau 2.º? Eu sei que Thiago também não gosta de “história especulativa ou conjetural”, mas podíamos adicionar à lista: Malenkov, Tukhachevski, Khruschov, Brezhnev... à escolha do freguês.

Os webcomunistas invariavelmente falsificam, deturpam, incensam e sacralizam a história da URSS, parecendo uma descrição da Cidade de Deus agostiniana ou da Utopia morusiana. Eles não têm outra fonte senão o próprio cânone bolchevista, não conhecem línguas, são incultos e dogmáticos, tiram diplomas apenas como pedaço de papel. Mas é sempre mais fácil bater no mais fraco, não? Como eu disse, Thiago “se esconde” atrás das citações dos historiadores, mas por que apenas aludiu aos argumentos a combater, sem os desenvolver nem mesmo “dar nome aos bois”? (Trazer o print de um aleatório site comunista obscuro do exterior, sem sequer explicar quem é o autor, foi o fim da picada!)

Por isso, a escolha dos três temas foi igualmente aleatória. Thiago sequer se preocupou em justificá-la, só faltou dizer que “são os temas mais debatidos no YouTube, Twitter ou Instagram”. Lembra muito os vídeos tristemente célebres de Manuela D’Ávila (2016-17) desmentindo os “mitos do comunismo” com memes de gatinhos... Como alguém já disse [nas avaliações da Amazon], a história da URSS é, sim, muito mais multifacetada. Mas a mitificação não para em 1945.

Temos a tecnologia nuclear (enquanto o problema habitacional nunca foi resolvido), o homem no espaço (enquanto mesmo as famílias de militares, como o pai de Aleksei Navalny – li suas memórias póstumas –, tinham de ficar horas esperando produtos básicos em filas), a reabilitação do charlatão Trofim Lysenko (que teria “desmentido a genética racista burguesa”, mas apenas destruiu a agricultura soviética), o apoio de Reagan aos mujahedin afegãos, transmutados em “Bin Laden” e “Talibã” retrospectivos (sendo que a primeira coisa que a URSS fez ao invadir o vizinho foi matar o presidente radical do Khalq, trocando-o por um mais “moderado”)... e o onipresente “cerco capitalista”, que justificou todo tipo de desperdício, repressão e mau planejamento, quando o Ocidente sequer ligava para o que acontecia “do outro lado da cortina”. E mesmo as décadas de 1920 e 1930 têm vários aspectos que poderiam ser explorados.

No Brasil, os comunistas, webcomunistas, stalinistas, maoístas, radicais, antifascistas, como queira, estão em coro, do conforto de seus apartamentos, defendendo a agressão imperialista de Vladimir Putin contra a Ucrânia, baseados em mentiras sobre OTAN, neonazismo, russofobia, golpe de Estado e outros boatos que eles também ajudaram a espalhar. A URSS nada mais foi do que a reciclagem do arcaico império tsarista, com o expansionismo e a crueldade turbinados. Como em 1939, outros vizinhos imediatos estão em perigo, não adianta negar. O “Ocidente coletivo” finge que não vê.

Mas Thiago sequer faz uma reflexão sobre a manipulação justamente desses pontos da história pela máfia que ocupa o Kremlin desde os tempos de Ieltsin, pois se preocupa mais em caçar webcomunistas. É um objetivo mesquinho, tornando o livro ainda mais desnecessário. Ele pensa que as conquistas democráticas são algo “caído do céu”, que não foram objeto de muita luta. Luta na qual justamente o bolchevismo se embrenhou para subverter a democracia. Conquistas que hoje, mais do que nunca, estão em perigo, relativizadas inclusive por certas esquerdas que a julgam “pudor burguês”, “teatro das elites” ou “desvio eleitoralista”. Salvo quando, assim como o “antipolítico” MBL, eles se candidatam, ganham e entram na mamata...



sábado, 31 de maio de 2025

Duas Romas: Francisco e Cirilo (2022)


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Nesta crônica de Slimane Zeghidour ao Journal international da TV5MONDE, em 17 de abril de 2022, ele dá uma interessante explicação sobre as diferenças persistentes entre o papa de Roma e o patriarca de Moscou. Sempre gosto de todas as suas análises, embora em meados de fevereiro daquele ano ele não acreditasse que a Rússia pudesse invadir a Ucrânia! O jornal vai ao ar todos os dias, ao meio-dia, e a âncora Isabelle Malivoir segue no comando, mas pessoalmente a achei meio mal-educada: imagine, duvidar da capacidade de compreensão da audiência ou talvez da habilidade explicativa de Zeghidour!

No começo da invasão, Francisco ainda mantinha uma posição crítica, mas com o tempo foi sendo cada vez mais acusado de leniência diante de Putin, até sua morte, em 21 de abril de 2025. O novo pontífice, Leão 14, foi mais incisivo contra a agressão, mas enquanto líder espiritual, permanece a necessidade permanente de ser mais “pragmático” quanto a uma aproximação com o patriarca Cirilo. Apesar do atraso, ainda acho uma tradução interessante.



– Junto-me a Slimane Zeghidour, nosso colunista e especialista em religião. Olá, Slimane. Então, uma bênção Urbi et Orbi repleta de uma mensagem aos grandes e poderosos neste tempo de guerra. Trata-se de uma mensagem política do papa ou ele está agindo em sua capacidade de chefe da Igreja Católica?

– Ambos, porque ele é o chefe da Santa Sé e, portanto, o líder espiritual de dois bilhões de católicos, mas também é o monarca do Estado da Cidade do Vaticano. E ele usa, por assim dizer, dois bonés, e é nessa capacidade que ele fala hoje. Agora, com relação à Rússia, devemos lembrar que o Estado russo só reconhece quatro crenças que são consideradas religiões nacionais: o cristianismo ortodoxo, o islã – sim, há 20 milhões de muçulmanos na Rússia –, o judaísmo e o budismo. Nesse contexto, a Igreja Católica, assim como as igrejas evangélicas, é uma igreja estrangeira. Não somente estrangeira, mas rival desde o cisma de 1054, agravado pela queda de Constantinopla, a “segunda Roma”, perante os turcos em 1453. E foi nesse momento que Moscou se tornou a “terceira Roma”, ou seja, o centro, o coração da cristandade no mundo.

E desde então, existe uma rivalidade entre Moscou e Roma. A diferença é que a Igreja Católica tem um único líder, o papa, enquanto as igrejas ortodoxas são, como se costuma dizer, autocéfalas, ou seja, cada país tem seu próprio patriarca. Mas o Patriarca de Moscou e de Todas as Rússias – é seu título completo, Patriarca de Moscou e de Todas as Rússias – governa os ortodoxos russos, mas também uma parte dos ortodoxos do Cazaquistão, da antiga União Soviética e da Ucrânia. Assim, na Ucrânia, a Igreja Ortodoxa Ucraniana decidiu romper sua ligação umbilical com o Patriarcado de Moscou pra se tornar uma Igreja Ortodoxa Ucraniana autônoma. Mas nesse instante, parte da Igreja Ortodoxa Ucraniana se cindiu de sua própria igreja pra permanecer ligada a Moscou. Você pode ter uma noção do cenário.

– Daí a complexidade da posição geral da Igreja com relação a isso.

– Isso. Pra simplificar o quadro, uma grande parte dos cristãos ucranianos são o que chamamos de uniatas, ou seja, ex-cristãos ortodoxos que se uniram ao papado e são chamados de uniatas. Eles são católicos e vivem na parte ocidental do país. É nessa parte, aliás, que se encontram os maiores partidários da independência da Ucrânia e da incorporação à Europa.

– Sim, não tenho certeza se isso simplifica muito as coisas na mente dos telespectadores. A Ucrânia é um espinho no pé da Santa Sé, Slimane? Porque é necessário ao mesmo tempo, como posso dizer, manter o diálogo justamente com a Igreja Ortodoxa Russa e também não ofender todos os cristãos da Ucrânia.

– Pois bem, quanto aos cristãos da Ucrânia, como eu disse, são os uniatas, assim, são ex-cristãos ortodoxos que se uniram a Roma. E isso alimenta uma espécie de paranoia entre os russos, em Moscou, como se a Igreja Católica considerasse toda a ortodoxia russa como uma terra missionária onde mais pessoas deveriam ser convertidas ao catolicismo. É por isso, por exemplo, que o papa de Roma pôde visitar países muçulmanos, incluindo ultraconservadores, mas nunca pôde ir a Moscou. 20 anos atrás, um dos assessores do então patriarca de Moscou e de Todas as Rússias disse à imprensa que o papa em Moscou era como Bin Laden na Casa Branca. Você pode ter uma noção da comparação.

– Muito obrigado, Slimane Zeghidour, e tudo o que você está dizendo, na verdade, faz comprometer esse futuro encontro que o papa desejava.

– Será muito difícil, mas não está fora de questão.


– Je rejoins Slimane Zeghidour, notre éditorialiste et spécialiste des religions. Bonjour, Slimane. Alors, une bénédiction Urbi et Orbi empreinte d’un message aux grands de ce monde en cette période de guerre. Est-ce que c’est un message politique du pape ou est-ce qu’il est dans ses fonctions de chef de l’Église catholique ?

– Les deux, parce qu’il est le chef du Saint-Siège, donc le chef spirituel de deux milliards de catholiques, mais il est aussi le monarque de l’État de la Cité du Vatican. Et il a, si on peut dire, deux casquettes, et c’est à ce titre qu’il parle aujourd’hui. Maintenant, s’agissant de la Russie, il faut rappeler que l’État russe ne reconnait que quatre cultes qui sont considérés comme des religions nationales : le christianisme orthodoxe, l’islam – oui, il y a 20 millions de musulmans en Russie –, le judaïsme et le bouddhisme. Dans ce cadre-là, l’Église catholique, comme les églises évangéliques, est une église étrangère. Non seulement étrangère, mais rivale depuis le schisme de 1054 qui a été aggravée par la chute de Constantinople, « deuxième Rome », en 1453 devant les Turcs. Et c’est à ce moment-là que Moscou est devenue la « troisième Rome », c’est-à-dire, le centre, le cœur de la chrétienté dans le monde.

Et depuis lors, il y a une rivalité entre Moscou et Rome. La différence, c’est que l’Église catholique a un seul chef, c’est le pape, tandis que les églises orthodoxes sont, comme on dit, autocéphales, c’est-à-dire, chaque pays a son propre patriarche. Mais celui de Moscou et de toutes les Russies – c’est son titre complet, patriarche de Moscou et de toutes les Russies – gouverne les orthodoxes russes, mais aussi une partie des orthodoxes du Kazakhstan, de l’ex-Union soviétique et de l’Ukraine. Alors, en Ukraine, l’Église orthodoxe ukrainienne a décidé de rompre son lien ombilical avec le Patriarcat de Moscou pour devenir une Église ukrainienne orthodoxe autonome. Mais à ce moment-là, une partie de l’Église orthodoxe ukrainienne a fait un schisme par rapport à sa propre église pour rester rattachée à Moscou. Vous voyez un peu le paysage.

D’où la complexité du positionnement de l’Église de manière générale face à ça.

Voilà, pour simplifier le tableau, qu’une bonne partie des chrétiens ukrainiens sont ce qu’on appelle des uniates, c’est-à-dire, ce sont d’ex-chrétiens orthodoxes qui se sont ralliés à la papauté et on les appelle les uniates, qui, eux, sont des catholiques et habitent dans la partie ouest du pays. C’est dans cette partie d’ailleurs qu’on trouve les plus grands partisans de l’indépendance ukrainienne et du rattachement à l’Europe.

– Ouais, pas sure que ça simplifie beaucoup dans l’esprit des téléspectateurs. L’Ukraine, c’est une épine dans le pied du Saint-Siège, Slimane ? Parce qu’il faut à la fois, comment dirais-je, maintenir le dialogue avec justement l’Église orthodoxe russe et puis ne pas froisser non plus tous les chrétiens d’Ukraine.

– Alors, pour les chrétiens d’Ukraine, je vous ai dit, ce sont les uniates. Donc ce sont des chrétiens ex-orthodoxes qui se sont ralliés à Rome. Et cela entretient chez les Russes, à Moscou, une sorte de paranoïa, comme si l’Église catholique considérait toute l’orthodoxie russe comme une terre de mission dans laquelle il faudrait encore convertir des gens au catholicisme. C’est pour cela, par exemple, que le pape de Rome a pu aller dans des pays musulmans, y compris ultraconservateurs, mais n’a jamais pu aller à Moscou. Il y a 20 ans, un des conseillers du patriarche de Moscou et de toutes les Russies de l’époque avait dit à la presse que le pape à Moscou, c’est comme Bin Laden à la Maison-Blanche. Vous vous rendez compte un peu de la comparaison.

– Merci beaucoup, Slimane Zeghidour, et tout ce que vous dites effectivement laisse compromettre cette future rencontre que le pape souhaitait.

– Elle sera très difficile, mais pas exclue.



sexta-feira, 30 de maio de 2025

A baixaria estragou todo o look


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A edição de ontem, 29 de maio, do programa diário The World with Yalda Hakim na Sky News foi dedicada especialmente à situação terrível imperante na “Faixa da Des-gaza”. Nem nosso famoso embaixadinha israelense na ONU Danny Danoninho, com toda sua obsessão pelo “hamaff”, chegou ao nível de baixeza desse idoso histérico que transformou a entrevista numa briga de condomínio impossível de acompanhar! Ele se apresenta como ex-assessor (adivinhe de quem?) do Bibi do Hamas, e não deixa sequer a Yalda interromper brevemente suas respostas quilométricas pra pedir esclarecimentos. Embora as emissoras sempre tenham problemas com o tempo, também penso que ela podia o deixar livre por um tempo pra daí fazer “provocações” mais pontuais.

O resultado foi que um começou a querer falar em cima do outro, e mesmo achando importante ouvir o lado do apologista de assassino, tive que pular devido ao incômodo que a situação me causou. Queria, por exemplo, que Yalda o impelisse a provar as acusações de que o “hamaff” estaria roubando ajuda humanitária e a vendendo por preços muito acima do mercado. Queria que pelo menos ele desmentisse a acusação inversa, de que grupos extremistas judeus, com a anuência do próprio governo, é que estariam roubando pra culpar os terroristas.

Mas a decepção foi completa, e fiquei mesmo sem saber se o tiozão do Zap teria algo a declarar, inclusive, sobre o famigerado “Qatargate”, escândalo segundo o qual Bibi é quem teria combinado com Doha de deixar o emir dar dinheiro pro Hamas investir na reconstrução de “Gavva”. Fundos que, infelizmente, podem ter financiado toda a construção de um famoso “metrô” por que passava de tudo, menos trens...




Olhe pra esta placa e ache o erro.

Não achou? Olhe de novo e tente outra vez.

Não conseguiu? Pois bem, eu explico: não é bem um “erro”, mas após uma pesquisa, penso que aprendi uma palavra nova na língua de Maomé. Era uma reportagem do mesmo especial sobre a ocupação ilegal da Cisjordânia (ou “Judeia e Samaria”, como eles chamam) pelos israelenses. O nome da cidade de Jerusalém está traduzido em árabe como “Uurushaliim”, e não “Al-Quds” (lit. “a sagrada”), que é a forma mais usada. Acabei descobrindo que essa versão árabe só é usada em Israel, mais exatamente em documentos oficiais redigidos nessa língua, e em contextos religiosos de cristãos arabófonos. Porém, fora desses meios, mesmo entre árabes cristãos, permanece a tradicional “Al-Quds”.




Nadehzda Iurova, da Novaia Gazeta Ievropa, fora de contexto. O primeiro tomei a liberdade de traduzir usando o sotaque de Bragança Paulista. O segundo podia ser chamado Why Are You Gae versão “exilados russos”, rs.


quinta-feira, 29 de maio de 2025

O atraso do voto feminino na Suíça


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Nesta edição de 7 de fevereiro de 2021 do jornal diário 64 Minutes do canal francês TV5MONDE, apresentada pela jornalista Silvia Garcia, a rubrica sobre notícias do mundo francófono fora da França abordou os 50 anos da conquista do direito ao voto pelas mulheres da Suíça. Reputado por vários aspectos avançados de sua sociedade, o encravado país da Europa foi um dos últimos do Ocidente a lhes permitir votarem e serem votadas, e as razões foram absurdas. Detalhe sórdido: obviamente só os homens podiam votar a respeito de algo que não lhes tocava... Isso mostra, ao contrário do que dizem certas bolsominions “antifeministas” do Fazendil (algumas delas eleitas!), que o sufrágio universal não foi um “presente” de cima, mas fruto de uma luta que furou um muro de resistência injustificável.

Garcia nasceu na Espanha (seu nome podia ser português também), mas se radicou muito cedo na Suíça, tendo trabalhado pra vários canais da confederação, mas também em outros países, incluindo a França, como podemos ver. Em 2023, ela voltaria “pra casa” como âncora de jornais da RTS, onde segue até hoje. Apesar do 64 Minutes ser francês, sua origem helvética transparece na leitura do ano de “1998”, em que “noventa” sai como “nonante”, uma variante regional, e não como “quatre-vingt-dix”, conforme o padrão parisiense. Se fosse sempre assim, a vida seria bem mais fácil, né? Rs. Bem, após algum atraso, segue a reportagem:


– Há 50 anos, as mulheres suíças conquistaram o direito ao voto. Há apenas 50 anos. Esta é a nossa manchete principal da francofonia.

Geralmente isso causa surpresa: a segunda melhor democracia [num dos rankings daquele ano], a mais antiga do mundo, foi um dos últimos países a conceder plenos direitos civis às mulheres. E ela está bem posicionada pra saber disso: com a gente, de Genebra, Ruth Dreifuss, ex-presidente da Confederação Helvética. Boa noite e obrigada por estar com a gente. Que lembrança a senhora guarda daquele 7 de fevereiro de 1971?

– A sensação, simplesmente, de que foi a culminância de um grande século de luta e o início de algo mais, ou seja, quando finalmente tínhamos as ferramentas necessárias pra participar plenamente e mudar a situação das mulheres neste país.

– E assim as mulheres conquistam seu lugar de direito na sociedade. O dia 7 de fevereiro de 1971 foi, como a senhora disse, o ápice de um longo combate. Por que a Suíça demorou tanto pra conceder às mulheres o direito ao voto? Em grande parte, isso se deve ao sistema político que torna o país, porém, tão renomado. Lembrete de autoria de nossos colegas da RTS, Cédric Verguin e Cyril Pierre.

Desta vez, foi pra valer. Em 7 de fevereiro de 1971, Gertrude Girard-Montet, presidente da Associação Suíça pelo Sufrágio Feminino, comemora: era a vitória, as suíças tinham acabado de conquistar o direito de votar e ser votadas. Finalmente, porque o caminho foi longo, cheio de armadilhas e exigiu muita adaptação. Entre 1919 e 1971, foram realizadas 31 votações sobre o sufrágio cantonais feminino. O “não” venceu 22 vezes. Porque os homens precisavam ser convencidos. E isso não foi rápido.

Em 1.º de fevereiro de 1950, o “não” ainda ganhará por 67%. Por esmagadora maioria, os cidadãos suíços rejeitam o sufrágio feminino em nível federal. Mas no cantão de Vaud, vence o “sim”, depois em Genebra, depois Neuchâtel. Mas aqui, estamos em 1962, e as mulheres suíças ainda não têm o direito de votar em nível federal.

– Acredito que essas cidadãs não estejam prontas hoje. Elas ainda não saberiam como devem votar. Elas andariam por aí se perguntando: “Devemos votar neste, naquele, num rosto bonito ou num cara que faz caretas melhor que o outro?”

Pouco importa. Desde a recusa de 1959, as suíças desfilam todos os anos com tochas pra exigir o indispensável direito ao voto. No fim das contas, foi a política externa que mudou tudo. Em 1968, o Conselho Federal decidiu assinar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, mas excluindo o direito das mulheres ao voto. Escândalo: Em 1.º de março de 1969, 5 mil pessoas marcham em frente ao Palácio Federal em favor do sufrágio feminino.

A igualdade jurídica entre os sexos é um pré-requisito importante ao pleno exercício dos direitos humanos.

Em 7 de fevereiro de 1971, os homens votam novamente e dizem “sim”, finalmente.

– Ruth Dreifuss, por que as autoridades não tomaram a iniciativa, na época, de impor o direito ao voto pras mulheres muito antes?

– Simplesmente por medo de um fracasso. E foi uma batalha muito, muito longa. E o governo não demonstrou nenhuma coragem ou liderança nessa área.

– 1998, a senhora se torna a primeira mulher a chegar à presidência da Confederação, presidência que na Suíça é rotativa. Isso a torna uma pioneira. Isso também a torna um modelo a ser seguido?

– Simplesmente torna meu dever abrir as portas a outras, o que fiz, aliás, no dia de minha eleição. Eu abri, mandei abrir as portas do Palácio Federal pra que outras mulheres viessem festejar e, logo depois, também assumir mais funções.

– Pois bem, 50 anos depois, as suíças estão indo às ruas. Em junho de 2019, há um ano e meio, uma segunda greve de mulheres exigiu igualdade salarial, mas também uma mudança na sociedade. A luta continua, precisamos acelerar o ritmo na Suíça?

– Completamente. Ah, uma vez que o direito ao voto foi conquistado, o que aconteceu foi que eliminamos a maioria das leis discriminatórias que persistiam na Suíça, relativas a casamento, divórcio, previdência social etc., em que a mulher ainda era de fato considerada dependente do homem. Depois, começou outra batalha, que já vinha sendo travada em paralelo, que é realmente sobre mudanças na mentalidade, na vida cotidiana, no mundo do trabalho e na educação. E esse combate continua, assim como o combate pelo reconhecimento de outros direitos contra a discriminação, por exemplo, das pessoas LGBT e outras pessoas que são atualmente discriminadas.

– Ruth Dreifuss, ex-presidente da Confederação Helvética, muito obrigada por ter estado com a gente no 64 Minutes.


– Il y a 50 ans, les Suissesses obtenaient le droit de vote. 50 ans seulement. C’est notre une francophone.

Ça suscite souvent l’étonnement : la deuxième démocratie, la plus ancienne au monde, a été l’un des derniers pays à accorder aux femmes tous leurs droits civiques. Et elle est bien placée pour le savoir : avec nous depuis Genève, Ruth Dreifuss, ancienne présidente de la Confédération helvétique. Bonsoir et merci d’être avec nous. Quel souvenir vous gardez de ce 7 février 1971 ?

– Le sentiment tout simplement que c’était l’aboutissement d’un grand siècle de lutte et le commencement de quelque chose d’autre, c’est-à-dire, quand on avait enfin l’instrument nécessaire pour participer pleinement et changer la situation des femmes dans ce pays.

– Et les femmes prennent donc toute leur place dans la société. Le 7 février 1971, c’était, vous le disiez, l’aboutissement d’un long combat. Pourquoi la Suisse a-t-elle accordé le droit de vote aux femmes aussi tard ? C’est en grande partie à cause de ce système politique pour lequel le pays est pourtant réputé. Le rappel est signé de nos confrères de la RTS, Cédric Verguin et Cyril Pierre.

Cette fois, c’est la bonne. Le 7 février 1971, Gertrude Girard-Montet, présidente de l’Association Suisse pour le suffrage féminin, exulte : c’est gagné, les femmes suisses viennent d’obtenir le droit de vote et d’éligibilité. Enfin, car le chemin fut long et semé d’embuches et s’adapte sacrément. Entre 1919 et 1971, 31 votations sur le suffrage cantonal féminin sont organisées. Le « non » l’emportera 22 fois. Car il faut convaincre les hommes. Et ça ne va pas vite.

Le 1 février 1950, ce sera « non » encore à 67%. Les citoyens suisses refusent à une écrasante majorité le suffrage féminin au niveau fédéral. Mais dans le canton de Vaud, c’est « oui », puis à Genève, puis Neuchâtel. Mais là, on est en 1962, toujours pas le droit de vote des femmes suisses sur le plan fédéral.

– Je crois que ces citoyennes ne sont aujourd’hui pas prêtes. Elles ne sauraient encore pas comme elles doivent voter. Elles iraient, elles se demanderaient en fabrique : « Est-ce qu’on doit voter pour celui-ci, pour celui-là, pour une belle tête ou bien pour un type qui sait mieux faire des grimaces qu’un autre ? »

Qu’importe ? Depuis le refus de 1959, les Suissesses défilent chaque année au flambeau pour réclamer le droit de vote indispensable. C’est finalement la politique étrangère qui fera tout basculer. En 1968, le Conseil fédéral décide de signer la Convention européenne des droits de l’homme, mais en excluant le droit de vote des femmes. Scandale : le 1er mars 1969, 5 mil personnes défilent devant le Palais fédéral en faveur du suffrage féminin.

L’égalité juridique entre les sexes est une condition préalable importante au plein exercice des droits de l’homme.

Le 7 février 1971, les hommes votent encore et disent « oui », enfin.

– Ruth Dreifuss, pourquoi les autorités n’ont pas pris l’initiative, à l’époque, d’imposer le droit de vote pour les femmes bien plus tôt ?

– Par peur d’un échec, tout simplement. Et c’est une très, très longue bataille. Et le gouvernement ne s’est pas signalé de courage ou par un rôle de leader dans ce domaine.

– 1998, vous devenez la première femme à accéder à la présidence de la Confédération, c’est une présidence tournante en Suisse. Ça fait de vous une pionnière. Est-ce que ça fait de vous un modèle aussi ?

– Ça fait de moi une obligation tout simplement d’ouvrir la porte à d’autres, ce que j’ai d’ailleurs fait le jour de mon élection. J’ai ouvert, j’ai fait ouvrir les portes du Palais fédéral pour que d’autres femmes y viennent faire la fête et bientôt aussi occuper plus de dossiers.

– Alors, 50 ans plus tard, les Suissesses sont dans la rue. En juin 2019, il y a un an et demi, deuxième grève des femmes pour réclamer l’égalité des salaires, mais aussi pour un changement de société. La lutte continue, il faut accélérer le rythme en Suisse ?

– Absolument. Ah, une fois que le droit de vote a été acquis, ce qui s’est passé, c’est qu’on a expurgé la plupart des lois de discrimination qui continuaient en Suisse, sur le plan du mariage, du divorce, dans les assurances sociales etc., où la femme était toujours considérée comme en fait dépendante de l’homme. Ensuite a commencé une autre bataille, d’ailleurs déjà menée en parallèle, qui est vraiment celle des changements de mentalité, des changements dans la vie quotidienne, des changements dans le monde du travail, dans l’éducation. Et ce combat-là continue, de même que le combat d’ailleurs pour la reconnaissance d’autres droits de lutte contre la discrimination, par exemple, des LGBT et d’autres personnes qui sont actuellement discriminées.

– Ruth Dreifuss, ancienne présidente de la Confédération helvétique, merci beaucoup d’avoir été avec nous dans 64 Minutes.



quarta-feira, 28 de maio de 2025

As piores unções pentecostais


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Quem curtiu a internet “das antigas” (até 2015, quando muito) conhece essa figurinha aí em cima: é o chamado “Pastor Pilão”, “Pastor Pião (da Casa Própria)” ou ainda “Pastor Zangieff” (em referência ao personagem do jogo e desenho Street Fighter), que numa dessas “possessões” comuns, sobretudo, em igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais, começou a girar rápida e compulsivamente, como se fosse um místico sufi ou um bailarino do noroeste do Cáucaso. Supostamente fora de controle e com as forças esgotadas, é finalmente amparado por um certo pastor Marco Feliciano, hoje conhecido por ser a ponta de lança mais execrável do evangelofascismo no Legislativo bananeiro. Não sei se chegou a circular por e-mail, como ocorria no começo, pois só o conheci muitos anos depois, mas as primeiras publicações no YouTube ganharam rapidamente o país.

Esse foi um dos primeiros casos em que tais “manifestações do Espírito Santo” se tornaram virais, primeiro cortadas de programas de TV, depois gravadas diretamente em celulares antigos e smartphones, tornando a vergonha alheia prontamente palatável. Não vou julgar do ponto de vista religioso, porque não tenho uma “fé” que sirva de “metro” pra tanto, e porque muitos evangélicos também condenam tais práticas, sobretudo em suas formas mais espetaculares, e reclamam que nossas igrejas estão “virando circos”. Também pouco me importo se mesmo os defensores das cenas mais inusitadas me julgarem intolerante, pois meu objetivo não é fazer humor com a crença em si, e sim com aspectos que realmente podem parecer risíveis ou mesmo, como qualquer coisa nessa vida, inusitados.


O raizíssimo “Pastor Pilão” foi pioneiro num gênero que inspira piadas até entre os próprios “crentes”. Porém, às vezes basta procurarmos uma coisinha no Google que de repente brota um mundo de informações do nada... e enquanto cientista social, é realmente isso que me interessa rs. Segundo este blog evangélico que encerrou suas atividades em 2018, o famoso meme seria um certo “cantor Moser”, falecido em novembro de 2011 e de quem alguns álbuns podem ser encontrados no YouTube. Pra adiantar aqui, internautas comentaram que ele teria sido gay até se converter, mas então já teria contraído HIV e falecido precocemente. As duas únicas publicações em seu Twitter no longínquo 2011 parecem apenas ser mensagens pra um tal “Pastor Juvenil”, até pedindo que ele o contatasse pelo Orkut, rs. E um de seus seguidores é justamente outra conta sua, um pouco mais ativa, em que se denomina “Presbítero (Levita) Moser”. Não há mais informações biográficas.

Voltando ao tema principal, demorei uns anos pra lançar esta publicação, primeiro porque fui acumulando alguns vídeos, e segundo porque não tinha tempo de fazer algumas edições básicas. Hoje, elas aparecem aqui com pequenas alterações e com as fontes citadas, caso ainda estejam disponíveis. Chamei genericamente de “unções”, como ocorre em alguns casos, mas esse nome pode ser impreciso: perdoe-me pela eventual ignorância terminológica que eu possa ter demonstrado até aqui! Portanto, aí vão As piores unções pentecostais (ou “melhores”, depende do ponto de vista...).

A “unção da galinha” é de longe minha preferida, porque a música, tirada não sei donde, combinou pra caramba! Embora tenha sido publicada por um brasileiro, é de origem afro-americana:


A “unção do helicóptero” é de 2010, brasileiríssima e editada por mim. Segundo os comentários, mistura louvor com exercício físico:


A “unção do macaco” parece ter vindo dos EUA, mas do mundo branco mesmo. Os internautas acharam mais parecido com uma britadeira ou com... Guilherme Boulos, rs:


A “unção do cadeira”, tupiniquim, foi publicada por um canal não por menos chamado “Apostasia”. Tirei os avisos iniciais e finais e fiz uma edição que vai pirar os saudosos dos anos 90! Os comentários estão fechados, mas recomendo altamente o conteúdo do canal, que traz outras unções malucas e “denúncias” de “macumba gospel” (!) e que vai nos informar que “Silas Malafaia é maçom”:


A “unção do axé”, assim denominada por mim mesmo, não foi editada exatamente porque ela justifica o próprio apelido. A conta do Équis foi apagada, mas denunciava (algo assim) as “heresias” que estavam transformando os cultos num “circo”:


A “unção da luta livre” (ou do UFC) é mais um crácico brazuca com edição minha, embora o axé também pareça muito animado. Porém, exceto pela hora em que o pastor leva as ovelhas nas costas, parece mais é um atracamento de machos safados, rs:


Dois vídeos com edições minhas vêm de nossos irmãozinhos africanos: a “unção do futebol” e a “unção do soco”. Não tenham confirmação, mas parecem ter vindo do Quênia ou de países próximos, que foram colônias inglesas (as ex-francesas e ex-portuguesas são mais católicas) e onde essas igrejas estão fazendo muito estrago se expandindo rapidamente:




Em homenagem a meu cabeleireiro Lucas Franco, que também é pastor da Igreja El Roi, segue esta “unção da prótese capilar”, rs! Um belo dia, ele resolveu me mandar uma demonstração desse serviço seu, mas colocou de fundo uma trilha cristã e... Louvai, carecas:


E pra terminar com animação, não exatamente uma unção, mas um pastor da Quadrangular que achei hoje por acaso, imitando várias vezes o passo moonwalk do Michael Jackson, ao som de uma canção deles mesmos. Ouvi um amém???


terça-feira, 27 de maio de 2025

CECI N’EST PAS UNE GIFLE


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A mais nova sensação do humor geopolítico foi a chegada, ontem, de Emmanuel Macron, co-príncipe de Andorra, à antiga colônia gaulesa do Vietnã, de onde foram chutados (como também seriam da Arjólia em 1962) bem antes dos ianques, no fim da década de 1950. O UOL foi uma das poucas mídias que traduziu o bafão, mas trago aqui meu próprio material: a câmera da agência Associated Press filmou, dentro do avião, a mão de sua mãesposa Brigitte dando na cara dele o que seria um tapa ou, o que acho mais aparente, um empurrão. Logo que percebeu estar sendo filmado a léguas de distância, o ex-banqueiro disfarçou com um sorrisinho amarelo e um aceno apressado.



Outras pequenas tomadas de vídeo do Marcão também foram recentemente lidas de modo maldoso pela oposição e, pior, pela desinformação do Kremlin, que já manipula muitos Asterix e o detesta acima de tudo pela ajuda que dá à resistência ucraniana. “Ceci n’est pas une gifle”, “Isso não é um tapa”, como reza o famoso meme quadro com o cachimbo. Mas agora é tarde, ficou pra história, rs.


Como também reza outro ditado, “as emendas ficaram piores do que o soneto”. E foram várias em sucessão: primeiro, disseram apressadamente que tinha sido “uma montagem gerada por IA”, mas quando não dava pra negar que o vídeo era verdadeiro, se saíram com esta (canal France 24): “Já vi 50 vezes essa cena. Eles se pegam, se provocam. Ele faz piadas e ela mesma põe as mãos na boca dele pra lhe calar. Pura brincadeira”, segundo o que seria o entorno do presidente. Olha, pra quem foi professora de teatro dele na escola e até dirigiu uma apresentação sua como espantalho, não duvido nada do talento desses dois atores:


Macron: As pessoas fazem um vídeo dizer muitas coisas estúpidas. Nesses três vídeos, recolhi um lenço de papel, apertei a mão de alguém e apenas brinquei com minha esposa, como fazemos muitas vezes. Pra mim totalizam três semanas: se você olhar pra agenda internacional do presidente da República Francesa, de Kyiv a Tirana, chegando a Hanói, há pessoas que viram os vídeos e pensam que partilhei um saco de cocaína, que saí na mão com um presidente turco e, agora, que estou tendo uma briga doméstica com minha esposa. Tudo isso é absolutamente falso. Porém, esses três vídeos são verdadeiros. Então, todos precisam se acalmar e, sobretudo, se interessar pelo essencial das notícias, é isso.

Макрон: On fait dire à une vidéo beaucoup de bêtises. Sur ces trois vidéos, j’ai ramassé un Kleenex, serré la main à quelqu’un et juste plaisanté avec mon épouse, comme on le fait assez souvent. Moi, ça fait trois semaines : si vous faites l’agenda internationale du président de la République française, de Kyiv à Tirana jusqu’à Hanoï, il y a des gens qui ont regardé des vidéos et qui pensent que j’ai partagé un sac de cocaïne, que j’ai fait un mano à mano avec un président turc et que là, maintenant, je suis en train d’avoir une scène de ménage avec ma femme. Rien de tout ça n’est vrai. Pourtant, ces trois vidéos sont vraies. Donc, faut que tout le monde se calme et surtout s’intéresse au fond de l’actualité, voilà.


segunda-feira, 26 de maio de 2025

Rolê aleatório Zelensky/Julio Iglesias


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Xameguinho Iglesias-Kobzon em Moscou, 2015, rs.


Se você pensa que já viu de tudo em matéria de “rolês aleatórios” (sobretudo envolvendo Ronaldinho Gaúcho ou algum ministro do STF), vai aqui mais um pro seu “currico”. Em 2013, Volodymyr Zelensky, então “apenas” um ator, diretor e humorista muito conhecido na Ucrânia e na Rússia (cujo idioma também é o seu materno), foi o apresentador da seção de convidados internacionais de um festival de novos talentos chamado em russo “Nóvaia volná” (Nova Onda), ou “New Wave” pro público internacional. De 2002 a 2014, organizado conjuntamente por russos e letões, era sediado na cidade letã de Jūrmala, mas a partir de edição de 2015, com intervalos, ocorreu em outras cidades da Rússia.

Como escrevi, o “New Wave” é focado na concorrência entre grupos e cantores em começo de carreira, mas há um dia reservado pra apresentações de artistas de renome, russos ou estrangeiros, como foi o caso de Julio Iglesias em 2013. Nos cortes que fiz, “Vladimir Zelenski” começa fazendo umas gracinhas na abertura (sem contar outras piadas ao longo do vídeo integral) e então apresenta o espanhol, cuja imagem demora um pouco pra aparecer, até que enfim ele saúda o público em seu peculiar inglês. Deixei toda a saudação do astro, mas cortei a parte da música, que inclui Caruso e Crazy, esta em dueto com Aleksandr Kogan, seu fã pessoal, ao piano. O hoje presidente da Ucrânia não aparece ao lado do inspirador dos “memes de julho”, mas subitamente sobe ao palco outra lenda, o russo Iosif Kobzon, que cumprimenta e ganha um beijo de Iglesias:



No vídeo do canal oficial do show, o momento da broderagem não fica claro, mas depois ambos aparecem lado a lado, sob os elogios do “palhaço narcômano” (como o chamam os putleristas), enquanto Iglesias diz que “adora” Kobzon. Os dois cantores já se encontraram outras vezes na Rússia, onde o próprio Iglesias se apresentava com frequência. Antes de morrer, contudo, o “Frank Sinatra soviético” era um admirador do Trombadinha de Leningrado, apoiou o começo de suas ações desestabilizadoras na Ucrânia (onde ele mesmo nasceu) e foi até cantar em territórios controlados por terroristas pró-Kremlin. Nos últimos anos, emprestou seu cabelo de boneco Playmobil à intepretação daquelas maceradas canções sobre a “Grande Guerra Patriótica” em eventos estritamente enquadrados pela ditadura.

Sobre o ator e cantor de Kryvy Rih, é curioso como até 2014 ele também era uma presença constante no showbiz russo, de forma que sua apresentação do especial de Ano Novo do Canal 1, junto com Maksim Galkin (com quem ele depois romperia), volta e meia vem à tona. O ponto mais curioso é a própria canção de abertura, em que Vladimir Soloviov (de preto), então um simples jornalista e hoje um dos propagandistas mais sujos da guerra, logo aparece dançando e fazendo um “v” com ambas as mãos. Com o roubo da Crimeia, Zelensky se confinou às fronteiras pátrias e lançou a série O servo do povo, que o tornou conhecido mundialmente ao interpretar um professor que se torna presidente da Ucrânia. A obra é basicamente uma crítica severa aos políticos e à oligarquia (geralmente as mesmas pessoas) do país, cujos laços umbilicais com Moscou, lembremos, nunca foram um segredo pra ninguém.

“No tempo que Dondon jogava no Andaraí, nossa vida era mais simples de viver...”



domingo, 25 de maio de 2025

O tal referendo que manteve a URSS


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Em 2 de setembro de 2024, a Novaia Gazeta Ievropa lançou em seu canal do YouTube o terceiro vídeo de uma ótima série, apresentada pela jornalista Nadezhda Iurova, sobre os motivos que levaram ao fim da URSS e o processo de transição pra Rússia contemporânea. É claro que a série estranhamente se chama “No caminho rumo à liberdade”, tendo em vista o atual Estado terrorista formado em Moscou, tanto que os historiadores que colaboraram dentro do próprio país pra pesquisa sequer desejaram ter as identidades reveladas, temendo represálias. Esse episódio fala mais especificamente do processo político de desintegração da “união indestrutível de povos livres”, e decidi traduzir dois trechos interessantes pra enfiar de vez na cabeça de nossos stalinminions.

O primeiro trecho fala da real natureza do “direito à autodeterminação”, na verdade nunca realizável, e mostra como Beria, “bonzinho” que era pra com seu povo, até nas melhores invenções tinha segundas intenções. (Mas quem o matou também não era melhor...) O segundo trata do famoso “referendo de manutenção da URSS”, esfregado por muitos comunistas na cara de quem simplesmente demonstra a impossibilidade de manter as correntes. Primeiro, veja que nem todas as repúblicas aceitaram participar e aceleraram o próprio processo de independência. Segundo, o tratado que resultaria desse referendo sequer foi implementado, justamente por causa da tentativa de golpe dos trapalhões da “linha dura”, em agosto de 1991; ela acelerou negativamente o processo ao levar, por exemplo, à pura e simples interdição do PC soviético.

E terceiro: não tendo sido implementado o novo tratado, as repúblicas não russas simplesmente fizeram os referendos de independência. Mesmo que até na Ucrânia (como um todo, pois no oeste foi bem menos), por exemplo, a maioria votasse pela preservação da URSS, mais de 90% dos eleitores desse país referendaram a independência após a falência das iniciativas de Gorbachov. É curioso que o “Novo Tratado da União”, jamais assinado, deveria manter até mesmo a sigla URSS, com a marota mudança de nome pra “União das Repúblicas Soberanas Soviéticas” (sotsialistícheskikh se tornando suverénnykh)!


Formalmente, a URSS era uma confederação onde as repúblicas podiam deixar a União a qualquer momento. Mas, na prática, o poder do partido fez da União um estado unitário, inflexível até o final da década de 1980. Logo após a morte de Stalin em 1953, seu colaborador mais próximo, Lavrenti Beria, propôs reformar a União Soviética, dando mais direitos às repúblicas nacionais.

É improvável que essa ideia tenha ocorrido ao ministro do Interior da URSS por razões puramente democráticas. É mais provável que Beria simplesmente tenha feito lobby pelos interesses das elites das repúblicas que o apoiaram na luta pelo poder contra outros membros do Politburo. Mas nunca houve nenhuma discussão séria: Beria foi preso e fuzilado sob acusações de espionagem e alta traição.


Формально СССР был конфедерацией, где республики могли выйти из Союза в любой момент. Но фактически власть партии делала Союз унитарным государством, непреклонным до конца 80-х годов. Сразу после смерти Сталина, в 1953 году, его ближайший соратник Лаврентий Берия предлагал реформировать Советский Союз, дав больше прав национальным республикам.

Вряд ли эта идея пришла министру внутренних дел СССР из чисто демократических соображений. Вероятнее Берия просто лоббировал интересы республиканских элит, которые поддерживали его в борьбе за власть с другими членами Политбюро. Но до серьёзных обсуждений не дошло: Берию арестовали и расстреляли по обвинению в шпионаже и измене Родины.


Num contexto de conflitos interétnicos, Mikhail Gorbachov, presidente da URSS, propôs a conclusão de um novo Tratado da União. Ele poderia ter expandido significativamente os direitos das repúblicas. Em dezembro de 1990, o 4.º Congresso dos Deputados do Povo, então o órgão supremo de poder estatal do país, decide realizar um referendo sobre a preservação da URSS. As repúblicas onde havia maior tensão (Estônia, Lituânia, Letônia, Geórgia, Moldávia e Armênia) se recusam a realizar uma votação centralizada.

Em 17 de março de 1991, 148,5 milhões (ou 79,5%) de cidadãos da URSS participaram da votação. 77% se pronunciam a favor da preservação da União. Se olharmos pros resultados em cada república, a maior porcentagem de apoio à URSS foi no Usbequistão, onde 93,7% dos eleitores apoiaram a preservação da União. A Ucrânia foi o país que menos queria preservar a URSS: pouco mais de 70,2% foram a favor.

Na sequência desse referendo, em abril de 1991, começaram as negociações diretas entre o presidente da URSS e a liderança das repúblicas sobre a conclusão de um novo Tratado da União. As negociações começaram na residência de Gorbachov em Novo-Ogariovo, no entorno de Moscou. Como resultado, todos os signatários concordaram com a separação de seis repúblicas não muito grandes: Letônia, Lituânia, Estônia, Moldávia [agora Moldova], Geórgia e Armênia. O acordo deveria ser assinado cerimonialmente em agosto de 1991, mas a tentativa de golpe em agosto estragou os planos. Depois disso, a assinatura foi adiada por tempo indeterminado.

Contudo, não foi um novo tratado que acabou determinando o destino da URSS, mas os Acordos de Belavezha. Em 8 de dezembro de 1991, na residência governamental de Viskulí, na floresta de Belavezha, os presidentes da Rússia, Boris Ieltsin, e da Ucrânia, Leonid Kravchuk, além do presidente do Soviete Supremo de Belarus, Stanislau Shushkevich, assinaram um acordo que anulava o Tratado da União de 1922. No lugar da União Soviética, foi proclamada a formação da Comunidade de Estados Independentes, ou CEI. A União Soviética deixou de existir.

Apresentador: “A URSS não existe mais. As repúblicas da antiga potência, com exceção da Geórgia e dos Estados Bálticos, totalizando um número de 11, fundaram a Comunidade de Estados Independentes.”


На фоне межнациональных конфликтов, президент СССР Михаил Горбачёв предложил заключить новый Союзный договор. Он мог бы существенно расширить права республик. В декабре 1990 года 4-ый Съезд народных депутатов, теперь высший орган государственной власти в стране, принимает решение провести референдум о сохранении СССР. Республики, где было больше всего напряжения (Эстония, Литва, Латвия, Грузия, Молдавия и Армения), от проведения централизованного голосования отказываются.

17 марта 1991 года в голосовании принимают участие 148,5 миллионов граждан СССР, то есть 79,5%. 77% высказываются в поддержку сохранения Союза. Если смотреть по республиканским результатам, самый высокий процент поддержки СССР в Узбекистане: там сохранение Союза поддержали 93,7% голосовавших. Меньше всего сохранить СССР хотели в Украине: за было чуть больше 88%.

По итогам этого референдума, в апреле 1991 года начались прямые переговоры президента СССР с руководством республик о заключении нового Союзного договора. Переговоры стартовали в подмосковной резиденции Горбачёва в Ново-Огарёво. По итогу все подписанты согласились на отделение шести не самых крупных республик: Латвии, Литвы, Эстонии, Молдавии, Грузии и Армении. Торжественно подписать договор собирались в августе 1991, но помешал Августовский путч. После этого, подписание отложили на неопределённый срок.

Однако, определил судьбу СССР в итоге не новый договор, а Беловежские соглашения. 8 декабря 1991 года президенты России Борис Ельцин и Украины Леонид Кравчук, а также председатель Верховного Совета Беларуси Станислав Шушкевич, в правительственной резиденции Вискули в Беловежской пуще подписали соглашение об аннулировании Союзного договора 1922 года. Вместо Советского Союза было провозглашено образование Содружества независимых государств, или СНГ. Советский Союз прекратил существование.

Телеведущий: “СССР больше нет. Республики бывшей державы, с исключением Грузии и стран Балтии, их 11 учредили Содружество независимых государств.”



“Ilustração meramente ilustrativa”. Por favor, não dê chiliques!

sábado, 24 de maio de 2025

Cresce deserção de soldados russos


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ATENÇÃO: CENAS FORTES! Certos conteúdos são tão raros na mídia bananeira, e têm tão pouca probabilidade de aparecer até mesmo nos telejornais mainstream “da gringa” (odeio esse termo!), que às vezes é melhor fazer de tudo pra os traduzir, tamanha é sua contribuição pra desmontar a propaganda do Kremlin. Na edição de sexta-feira, 23 de maio, do boletim de notícias da Radio Svoboda (sucursal em russo da Liberty/Free Europe), revela-se o aumento de deserções entre os porcos que invadiram a Ucrânia, conforme investigação de um famoso portal anti-Putin.

O vídeo com o trecho apresentado pela repórter Melani Bachina segue abaixo, e sugiro cautela ao assistir, pois há cenas de maus tratos a desertores. Na primeira, o comandante zoa da cara dos soldados, lhes dando restos de comida, e na segunda, um fugitivo não identificado relata os abusos dos comandantes, que também são resumidos no texto. Mantive ambos no corte, mas decidi não os transcrever nem traduzir, porque a linguagem era oral demais. Estão indicados com as reticências entre colchetes, e minhas observações também estão entre colchetes. Nesta reportagem da Deutsche Welle em russo, o mesmo assunto é abordado (você pode traduzir com o Google).

Falando em tradução, vou resumir como obtive o texto. Eu extraí as legendas por meio de IA usando o programa Microsoft Clipchamp do Windows 11, que não é perfeito, mas já ajuda pra caramba, poupando dedos e ouvidos. Após polir o texto, eu o joguei no Google Tradutor, cujo resultado cotejei com o original e ao qual dei a forma final abaixo. Tenho usado tanto essas “tecnologias modernas” que nem vou mais as citar, exceto se tiver aparecido um recurso excepcional que achei imprescindível partilhar. No futuro, vou falar mais em “eu mesmo traduzi”, quaisquer que tenham sido as ferramentas, ou em “eu adaptei a tradução”, se já houver alguma publicada, mas que julguei por bem revisar cotejando com o original:


Desde o início da invasão em grande escala, pelo menos 49 mil pessoas fugiram do Exército Russo, de acordo com cálculos de jornalistas do portal Vazhnye istorii. A publicação cita vazamentos de vases de dados, mas observa que o número real de desertores pode ser consideravelmente maior. [...] Pra efeito de comparação, 49 mil pessoas é aproximadamente o tamanho de um corpo de exército [escalão hoje inexistente no Exército Brasileiro], que inclui várias divisões.

Essa estimativa do número de desertores coincide com dados da comunidade OSINT [Inteligência de Fontes Abertas] ucraniana Frontelligence Insight. Eles relataram 50,5 mil desertores em todo mês de dezembro de 2024. E o número de desertores está crescendo: a organização de direitos humanos “Idite lesom” (“Sigam pela floresta”), que ajuda os russos a evitar serem enviados para o front, relata que, no ano passado, recebeu 2,5 vezes mais pedidos de aconselhamento sobre esse assunto.

Combatentes russos reclamam, entre outras coisas, de ameaças feitas pelos comandantes, por exemplo, quando se recusam a cumprir uma ordem de atacar sem cobertura. Os combatentes são colocados em porões ou fossos e enterrados no chão. Uma nova mensagem de vídeo com uma reclamação contra o comandante apareceu no dia anterior no canal do Telegram “Ne zhdi khoroshikh novostei” (“Não espere boas notícias”). Deve-se ressaltar que, em condições de guerra, é impossível verificar prontamente a veracidade do que foi dito. [...]

No final de 2024, o projeto “Khochú zhit” (“Eu quero viver”) publicou listas com os nomes de quase 30 mil militares do Exército Russo que eram procurados por seus comandantes ou pela polícia militar como desertores e que deixaram suas unidades sem permissão. Mais de um quarto deles vem das províncias de Donetsk e Luhansk. No ano passado, foi registrado em tribunais militares russos um total de 10 308 processos criminais por recusa de serviço. É quase o dobro do total do ano anterior.


С начала полномасштабного вторжения из Российской армии сбежали по меньшей мере 49 000 человек, подсчитали журналисты “Важных историй”. Издание ссылается на утечки из баз данных, но при этом отмечает, что по факту количество дезертиров может быть значительно большим. [...] Для сравнения, 49 000 человек – это примерно как состав армейского корпуса, в который входит несколько дивизий.

Такая оценка количества дезертиров совпадает с данными украинского OSINT-сообщества Frontelligence Insight. Они сообщали о 50 500 сбежавших по состоянию на декабрь 2024. И количество дезертиров растёт: правозащитная организация “Идите лесом”, которая помогает россиянам избежать отправки на фронт, сообщает, что за последний год к ним стали в 2,5 раза чаще обращаться за консультациями на этот счёт.

Российские военные, в том числе, жалуются на угрозы со стороны командования, например, при отказе выполнять приказ идти в штурм без прикрытия. Военных сажают в подвалы, ямы, закапывают в землю. Очередное видеообращение с жалобой на командира появилось накануне в Телеграм-канале “Не жди хороших новостей”. Отмечу, что проверить достоверность, сказанного в условиях войны, оперативно невозможно. [...]

В конце 2024 года проект “Хочу жить” опубликовал поимённые списки почти 30 000 военнослужащих Российской армии, которых их командиры или военная полиция объявили в розыск как дезертиров и самовольно оставивших часть. Более четверти из них выходцы из Донецка и Луганской областей. Всего за прошедший год в российские военные суды поступили 10 308 уголовных дел об отказе от службы. Это почти вдвое больше, чем годом ранее.